Filomena Viegas, da direcção da Associação de Professores de Português (APP), comentou a homologação do novo programa de Português e das metas curriculares para o Ensino Básico nesta sexta-feira, dizendo esperar “que os professores tenham o bom senso de não o seguir de forma acrítica”. “Procurar que as crianças atinjam as quase mil metas e os respectivos descritores, tal como estão formulados, é pôr de lado aquilo que deve ser essencial, a aprendizagem das crianças e embarcar na obsessão do que pode ser treinado, quantificado e medido com exames”, criticou.
Na introdução ao novo programa , que entra em vigor no próximo ano lectivo, pode ler-se que as metas curriculares, com as quais os conteúdos do programa agora “estão profundamente articulados”, “definem, ano a ano”, os objectivos a atingir. E ainda que quer estes quer os descritores de desempenho (enunciados precisos e objectivos do que se espera que o aluno seja capaz de fazer no final do ano lectivo) são “avaliáveis” e “foram seleccionados e elaborados no sentido de permitirem que cada um deles seja objecto de ensino explícito e formal”.
“Qualquer pessoa entenderá que estabelecer metas anuais, objectivas e mensuráveis para cada ano de um ciclo de ensino é desadequado e favorece a retenção, porque não permite a flexibilização do currículo e dos programas ou a recuperação de aprendizagens menos conseguidas”, considera Filomena Viegas.
Da “aberração” que, na sua perspectiva, "são alguns dos objectivos", a professora aponta como exemplo a exigência de que no fim do 1.º ano a criança saiba ler “correctamente, por minuto, no mínimo, 25 pseudo-palavras”. “Ler pseudo-palavras, palavras que não existem na língua portuguesa mas que podem ser pronunciadas – como “falim”, “larar”, “alemar”, “pratila”, “tenfa” etc - é um exercício que já se fazia, mas obrigar crianças de seis anos ler alto 25 pseudo-palavras, de cronómetro na mão, e avaliá-las por isso, é, no mínimo, ridículo. Só serve para desviar o ensino do essencial”, afirmou.
A recentemente criada Associação Nacional de Professores de Português (Anproport), que tem a coordenadora e vários autores do novo programa nos respectivos órgãos dirigentes, não tem uma posição definida sobre este assunto. Segundo o presidente, Fernando Nabais, a implementação do programa será acompanhada (e posteriormente avaliada) por um grupo de trabalho do qual não farão parte, “por vontade própria”, as pessoas que estiveram envolvidas na sua elaboração.
Fonte: publico.pt
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